Pra gente não esquecer como era o BIG Festival e entender como vai ser a gamescom
Depois de enterrar de vez o “independent” do BIG, tirar o S de Brasil e transformar o B em “best”, a gamescom desembarcou de vez na América Latina.
Surpreendentemente com muitos jogos brasileiros, a gamescom latam também teve filas enormes, preços bizarros e uma nostalgia equivocada de que o Brazilian Independent Games Festival de antigamente era um evento super focado e pensado para os desenvolvedores nacionais.
Passadas algumas semanas da Feira e da organização do Festival Jogatório, tá na hora de falar sobre os pontos positivos e negativos da chegada do maior evento de videogames do mundo ao Brasil.
Ponto Positivo: Jogos Brasileiros em todo lugar
Meu maior medo com a compra do BIG Festival pelo Grupo Omelete e a consequente fusão com a gamescom era cada vez menos espaço para os jogos brasileiros. E pelo menos esse ano esse medo não se concretizou.
O pavilhão principal tinha indie br em todo canto: no Panorama Brasil e na Área Indie, nos espaços do SEBRAE, SP Cine, Adesampa, Banco do Brasil e Zeenix e até na Nintendo, além de estandes dos próprios estúdios como o da Mad Mimic, Orube e Hype Joe Games. Veja a lista completa aqui.
Mas isso parece muito mais mérito desses espaços em si do que do próprio evento. A gamescom parece seguir fazendo só o básico para o desenvolvimento nacional, mantendo um Panorama mínimo em um espaço máximo - o que nos leva ao primeiro ponto negativo.
Ponto Negativo: Tamanho do Panorama Brasil
Quarenta jogos é MUITO POUCO. A gente não precisa de muito pra ver que o Brasil tá lotado de jogos e estúdios extremamente diferentes querendo e precisando participar de eventos perto do grande público.
Sobra espaço na SP Expo e com certeza sobra dinheiro pra organização da gamescom bancar PELO MENOS um Panorama com uns sessenta joguinhos. A gente não pode nivelar por baixo comparando com a BGS e sua Avenida Indie minúscula, escondida e extremamente cara. Precisamos cobrar mais da gamescom, ainda mais quando a CCXP (“irmã mais velha” da BIG na família Omelete) mantém um Artist’s Alley com centenas de artistas no meio do evento.
E principalmente quando uma iniciativa independente como o Festival Jogatório oferece espaço pra mais de 60 criadores de jogos e artistas com ajuda de custo, TVs e entrada de graça.
Ponto Positivo: The Enemy Direct
Uma série de trailers, anúncios exclusivos de jogos, vídeos inéditos de gameplay…o primeiro direct do The Enemy sofreu bastante com problemas técnicos, mas mesmo assim entregou uma hora de conteúdo focado em jogos brasileiros e lotou a plateia do palco secundário da gamescom.
A Orbit Studio (Retro Machina) mostrou o primeiro trailer e revelou o nome do seu próximo jogo, SkyDust. A Glitch Factory revelou To Kill a God, jogo que se passa no mesmo universo de No Place For Bravery, e a Statera Studios mostrou do nada Arashi Gaiden, um jogo dentro do universo de Pocket Bravery feito em parceria com o dev Thiago Oliveira (Red Ronin). Além do primeiro trailer da Parte 2 de Asleep (Black Hole Games). Também tivemos gameplay comentado de Abyss x Zero (Studio Pixel Punk) e deveríamos ter tido uma de Pipistrello and the Cursed Yoyo (Pocket Trap), mas o vídeo acabou travando.
Problemas técnicos à parte, fica um agradecimento enorme aos queridos do The Enemy e ao Coelho (no Japão) pela iniciativa. Espero que ano que vem fique ainda maior - inclusive se quiserem chamar o Controles pra ajudar na curadoria e busca de lançamentos, só chamar!!!
Ponto Negativo: Preços abusivos
Ingressos a 300 reais, almoço por 90 conto, armário para devs guardarem suas mochilas e equipamentos a 50 por dia…infelizmente a gamescom também internacionalizou ainda mais os preços das coisas no evento - que num passado cada vez mais distante ainda tinha entrada gratuita.
Pro desenvolvedor que não foi chamado para o Panorama Brasil ou para a seleção finalista do evento, existiu uma Área Indie com espaço pra cerca de dez jogos ao preço de 2500 dólares (sim, cobrado em dólares) com mais 1300 reais de aluguel pra uma televisão. Quase 15 mil reais pra ter seu jogo num cantinho escondido do pavilhão - ao mesmo tempo em que jogos vencedores das categorias principais levaram 5 mil reais. As contas não fecham.
Ponto Positivo: Encontros
A gamescom segue cumprindo sua maior função: reunir os desenvolvedores de todo o Brasil num lugar só pra que a gente faça bares pós-evento e se trombe nos pavilhões lotados da SP Expo.
Óbvio que isso só faz sentido pra quem consegue credencial de imprensa pra poder aproveitar os encontros sem ter pressa de “jogar tudo pra valer o ingresso”, mas é isso. Citando o brilhante Avatics (do canal Avatics), “a gamescom não tem tanto brinde como a BGS nem tanto indie quanto o BIG”, e acho que isso pode ser frustrante prum público geral que precisou enfrentar filas enormes da Nintendo pra ganhar um poster merda (bem feito pra vocês, era só ir no Panorama e jogar 40 joguinhos brasileiros incríveis).
Sem falar, obviamente, no lado do dev, que pode colocar seu jogo em um incrível playtest com milhares de pessoas diferentes e ainda de quebra treinar aquela habilidade de comunicação tão importante pra espalhar a palavra dos nossos joguinhos.
Ponto Negativo: Sentimento de que “antes era melhor”
Por fim, a gamescom chegou pra engrandecer uma ideia imaginária de que o BIG Festival era a grande utopia dos jogos brasileiros.
Pra quem não se lembra, há alguns anos, um grupo de mais de 80 desenvolvedores publicou uma carta aberta de insatisfação em relação aos critérios de seleção, falta de feedback e transparência do antigo BIG, criticando também o pouco espaço dado aos jogos brasileiros e a falta do “independent” que era proposto no nome.
Como relato pessoal, também relembro do BIG de 2015, primeiro evento de games que cobri enquanto jornalista: onde praticamente nenhum jogo brasileiro estava indicado nas premiações principais e o espaço para devs não finalistas era uma mesinha alta que cabia no máximo um notebook.
O BIG foi muito importante e a gamescom ainda vai continuar sendo. Mas mais importante ainda é surgir novos BIGs, feitos dos desenvolvedores para os desenvolvedores, dando lugar para a diversidade de rostos e jogos feitos no nosso país, priorizando o independente de verdade, não os Dave the Diver da vida - e se possível de graça.
Eu sou muito otimista e quero acreditar que a gamescom seguirá tendo um bom protagonismo de jogos brasileiros - mas parece cada vez mais certo de que o caminho escolhido vai ser a da maior internacionalização possível do treco. E mesmo enxergando um futuro com mais marcas, periféricos e influencers (tipo a BGS), ainda acho que o Panorama vai ter espaço central no desenho do evento. E até lá a gente já vai ter o SMALL - ou qualquer outro nome engraçadinho - que de fato seja pensado para os jogos brasileiros. E fora de São Paulo, por favor.
Simm pra um SMALL Festival fora de SP! Meu FOMO acabou ficando pro jogatorio mesmo que não consegui comparecer. Ótimas reflexões e justíssimo. Eu nunca tinha ido a um BIG embora acompanhasse as tretas no Facebook há anos