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Lucas Resende Toso

A produção de conhecimento através dos videogames, RPGs e Lima Barreto (com Tainá Felix)

Atualizado: 10 de ago. de 2022

Conversar com Tainá Felix foi um dos momentos mais tensos dessa curta trajetória do Controles até agora. No bom sentido, claro. Filho, sobrinho, sobrinho-neto e primo de professores, sempre fui um apaixonado por como a educação consegue mudar as coisas e, pesquisando sobre ela, me vi lendo textos e mais textos sobre os videogames enquanto construção de conhecimento. Definitivamente esse episódio com Tainá plantou mais uma semente naquele Lucas que ainda quer dedicar uma parte do seu tempo pra educação. Enfim.

A filha da Dona Maria e do Seu Antônio atualmente é sócia do estúdio Game e Arte ao lado de seu parceiro de vida e trabalho, Jaderson Souza, além de, claro, ser atriz formada em Comunicação das Artes do Corpo pela PUC-SP, educadora, produtora, roteirista e desenvolvedora de jogos. E muitas outras coisas nesse meio todo.

“A Tainá que eu sou hoje tem a ver com esse encontro que tive na minha vida com o Jaderson. Todo o meu mundo de criação estava ligado ao teatro, à música e à educação, mas passou a se ligar com os jogos. Minha relação com tecnologia nunca foi próxima, nunca foi um lugar comum, nunca pensei nela enquanto carreira, então por isso foi uma virada de 360 graus porque vi nela um potente espaço de educação”, disse a dev no sexto episódio do Controles Voadores.

A Game e Arte, em si, nasceu através da ONG Jogos e Educação, projeto de Jaderson que levava sua pesquisa acadêmica para o prático, cotidiano, e entendia o espaço digital como um lugar do futuro. E foi isso que fisgou Tainá. Quando ela presenciou Jaderson utilizando Magic em uma oficina da ONG para falar sobre interpretação de texto, ela viu os jogos como um espaço fértil para a produção de conhecimento.


“Entender o videogame não só como uma mídia, mas como uma linguagem pela qual a gente poderia se comunicar e trocar com as pessoas e que poderíamos encontrar um espaço pra construir e desenvolver conhecimento juntas”, acrescentou.


Nascido do terceiro setor, o estúdio passa para o setor comercial, mas segue atendendo de quem era atendido pelo projeto de graça. A dupla propõe atividades em muitos lugares não comuns e se aproveita da comunicação informal pra espalhar a palavra do desenvolvimento pra ambientes que, muitas vezes, não sabem nem que isso é uma possibilidade. É sobre pensar o videogame enquanto ecossistema e a formação de uma nova indústria, com novos desenvolvedores se entendendo também como criadores tanto quanto qualquer outro dev independente ou grande produtora AAA.

Depois de ter colocado fogo em um monitor quando mais nova, a paulistana agora já desenvolveu dois jogos com Jaderson na Game e Arte: A Nova Califórnia, RPG baseado no excelente conto de 1910 de Lima Barreto, talvez o principal autor do pré-modernismo brasileiro, e Amora, um jogo que mistura poesia, amor e vampiros e nasceu de um projeto pra uma Global Game Jam.


Assim como nos palcos, Tainá busca experiências narrativas profundas, inovadoras, como em Flower, jogo genial de 2009 que te permite simplesmente ser o…vento. Além de Papo & Yo, jogo latino-canadense, e Heavy Rain, jogos com narrativas extremamente potentes e marcantes. “Sempre fui uma contadora de histórias através do teatro e vi que os jogos potencializam isso. A gente pode construir histórias e não tem limites no sentido de trazer novos mundos e perspectivas”, disse.

Mas nem só de narratologias rebuscadas vive uma gamedev, certo? Obviamente Tainá também adora jogar um WWE e dar porrada sem culpa em lutadores e lutadoras de colant, além de buildar uma tank massiva em Diablo 3 pra poder despedaçar o inferno em paz e tankar todo o dano possível. Variância de experiências é o que importa.


Sendo nos palcos ou no roteiro e produção de um jogo, Tainá é uma entidade de extrema importância para o desenvolvimento brasileiro e tem muito mais fatos incríveis da trajetória dela que você deveria ouvir o podcast inteiro para conhecer. E preciso terminar esse texto usando um trecho do livro “Crônicas de Minas Gamedevs”, de Flávia Gasi e Kaol Porfírio, e que retrata Tainá:


“Quando era pequena, ela via sua avó costurando, e era incrível como o resultado sempre parecia maior do que a simples junção das partes: dois tecidos viram uma coisa só.”

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